27/04/08

O Sorriso

Creio que foi o sorriso,

sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz

lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar

nu dentro daquele sorriso.

Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Eugénio de Andrade

Muito em mim


Muito em mim é querer-te e desejar-te
poeta morto e heterónimo do meu ser,
paz sossegada, luz de muito luar,
muito em mim é ser poeta e homem.

Alba fronte de desejo
de calor em meu sossego
alba negra, perdida e morta
de um poeta calado e morto.

Gente e tanta...
tanta, pequena e errante
desvairada e amortecida
espezinham o belo e o bom.

Muito em mim me condena
e comer a fome e matar a vida
é fechar-me em labirinto
e sorrir ao teu olhar,

É acabar com teu encanto
e gritar sem voz
é amordaçar-te a alma
e perder-te em pecado.

E tu, meu poeta heterónimo
és singular na perfeição
mas perdes minha voz nessa gente e tanta...
e não sabes gritar o belo e o bom....

25/04/08

Sem muito para dizer

Sem muito para dizer, afirmo minha vontade de gritar
Como quem sufoca com um beijo apaixonado.
E entre um sorriso perdido, um olhar esquivo
Perco-me em tempo real, dentro de um mar revolto,
Dentro um vento agressivo que sopra palavras
Que só eu posso entender.
Ilusões, perdições, sentimentos,
Corações empobrecidos que não conhecem
A simbiose do conjugar e do sentir.
Sem muito para dizer, afirmo minha vontade de soletrar,
Devagarinho, saboreando cada letra, numa associação de hiperligações.
E do vento agressivo, do mar revolto, do sufoco
Surgem frases inteligíveis fruto de um tempo efémero
Que na minha vontade de gritar são ecos que se propagam para além do horizonte.