23/11/08

Sem "eu"

Não quero perde-me na imensidão do mundo,
Nem tão pouco encontrar-me num acaso,
Não quero visitar o meu eu esporadicamente.
Quero encontrar-me na minha realidade.
E se para isso tiver de me perseguir,
Tiver de quebrar todos os espelhos,
Se para isso tiver de ficar nu
Perante meus olhos mundanamente observados,
Fá-lo-ei, antes que a morte do meu ser me surpreenda!
foto from: olhares.com

21/10/08

Em mim...


Já não consigo escrever o teu nome na minha almofada.
Desvaneceu-se em sonhos não sonhados.
Em pensamentos imaginados de um adormecer constante.
Se algum dia exististe,
pois então, revela-te em mim!
Transborda-me de momentos da tua existência e preenche-me de ilusões.
E de falar de ti,
eu quero iluminar o mundo.
Quero ver-te em pedacinhos das coisas mais simples
E sentir-te na minha presença.
E se não fores tu a pessoa eleita,
Não passeies no meu sonho
Não pises a mágoa cicatrizada!
Foto from olhares.com

30/08/08

Esperar...


Por ti espero
Sentado na solidão
No silêncio… nas horas
De boca seca e lábios ásperos
Por chamar teu nome desconhecido.
Por ti espero
E nem sei bem se vale a pena
Perdido… sufocado, simplesmente
Aconchegado no meu manto de ninguém.
Por ti espero
Ausente na penumbra da minha cegueira
Enquanto a vida se agita
No odor do amanhecer, intenso e sem sabor.
Sob os meus pés fatigados
De tamanho peso suportarem
Jaz agora uma lágrima eterna, endurecida…
E o tempo voa…
Por ti espero
E nem sei se vale a pena…

foto from olhares.com

28/08/08

Onde?




Afinal a felicidade habita a rua que eu desconheço…
Tão pouco de mim encontrei
No sorriso prometido (uma vez mais)
E neste constante embalar angustiante
Recomeço, mendigando, o caminho do coração.
Espera-me! Encontra-me!
Eu sinto a força desvanecer.
A rua que eu desconheço, segundo as vozes felizes,
Fica ao alcance de um olhar, de um desejo agitado,
De um sorriso aberto. Fica ao meu lado.
Eu olho…olho…olho…
E simplesmente vejo encruzilhadas.

02/07/08

Amanhecer


Agora que amanheceu,
Reconheço-me no despertar.
E no espelho do agora
Perpetuo um silêncio julgado esquecido.
Reconheço-me no vazio, frio, só…
Do acordar em solidão.
E no espelho do agora
Perpetuo uma saudade abandonada,
Uma dor atenuada por um novo raio de sol.
Agora que amanheceu
Ouço ecos de ternura…
Foto from olhares.com

01/07/08

Eterno...


Agora eu vejo o mundo a três dimensões
Em perspectiva omnisciente, do alto
Olimpo e sempre de lente focada, como
Quem beija a eternidade
Sem, no entanto, a conhecer.
E penso-me Senhor
Das linhas traçadas na minha mão
E sou o perpetuar da sina que nos envolve
E tudo o mais são adereços de viver.
E porque a nascente ainda brota dos meus olhos, suspiro:
Ai que saudade do mar calmo nas manhãs frias de inverno!
Porém,
Sinto-te em espuma, banhando-me em infinito!
foto from olhares.com

25/06/08

Despedida...


Deito-me na sombra de um momento que julgava meu, sem estrelas para contemplar, nem brisa refrescante vinda de um sopro qualquer. De olhar inerte, olho de soslaio o tempo dos frutos vermelhos que não chegaram a amadurecer por falta da suavidade do teu carinho. E entre sonho e lágrimas recordo, sem mágoa, aquilo que o tempo fechou dentro um olhar.
Um dia disseste-me, sem palavras, que o mundo também tem cor, que os sentimentos criam música sem pauta e que a poesia é um reviver de sensações, mesmo em tristezas e cansaços e eu acreditei.
Hoje, sentamo-nos de costas voltadas. Cada um vê um mundo diferente. Melhor? Talvez…
Mas olha, vê! Observa com muita atenção! Os frutos vermelhos ganharam sabor. Não têm o teu sabor, eu sei. Mas sabem a maresia e a horizonte. Sabem a presente sem passado.
Tu que sempre soubeste tão bem perscrutar a minha alma, fá-lo, agora, de mãos vazias, sem o brilho intenso do teu sorriso, sem o teu doce olhar perdido no vento e vê! Sente! Ouve!
Vê como o meu norte se distanciou do teu!
Sente o calor deste novo verão que me brindou de luz!
Ouve como as notas saídas da minha pele criam uma nova sinfonia em tons de chilrear!
E embora me preenchas de um eterno poema por acabar,
Só nos resta, sem rejeição, a saudade de uma amizade!

foto from olhares.com

24/06/08

On m'a dit...



On m’a dit que la pluie n’a pas de couleur,
Que le soleil brille tous les jours de la même façon,
Que les marées sont toutes différentes,
Que l’eau de la rivière ne passe qu’une seule fois sous le pont.
On m’a dit qu’on doit marier, avoir des enfants,
Avoir une vie routinière.
On m’a dit que l’on n’aime qu’une seule fois,
Que notre destin est la mort.
Et moi...
Je me dis que la pluie est un arc en ciel,
Que la lumière du soleil est le miroir de l’esprit,
Que les marées sont les tromperies de la vie,
Que l’eau de la rivière va et revient comme les passions folles.
Je me dis qu’on doit être heureux et vivre passionnément,
Embrassant la vie toujours une dernière fois.
Je me dis qu’on doit aimer inconditionnellement,
Si le cœur bat, si le cœur s’étonne, en voyant ton regard,
Si le cœur est une fleur et a de la soif,
Je me dis que notre destin est l’amour.


Foto from olhares.com

23/06/08


Com um beijo inaugurámos o silêncio
Um silêncio tão perturbador como a distância
Que entre nós nasceu
Mas hoje…
Hoje decidiste renascer
Escrevendo meu nome no teu sorriso
E eu sorrindo
Acariciei um outro sorriso
.





Foto: [Marie]

16/06/08

Amor...



Amar-te sem pecado
Deglutir-te serenamente
Ao som do meu fado
Entre lençóis amarrotados, transpirados
De um amor concubino
Acabado de cozinhar, condimentado…
Sussurrado…
porque
O amor também se alimenta das nossas histórias
E tem dias felizes
Tem cicatrizes apagadas
Por beijos soltos em desespero.
Porque
O amor também sente
E crê-se ávido de palavras
Formando-se em sedimentação
E por mais que se sinta
Essa força bruta galgando
As entranhas do coração
Emergindo em lava incandescente
O amor é sempre pouco…


foto from olhares.com

11/06/08

Se...




Se o meu coração voasse
Em pétalas de rosas vivas
Num sentir, num despertar
Num êxtase de te ter
Num querer-te que dói
Num ardor que penaliza,
Em seu dorso
Montava meu perfume
De verdade e conquista
De esperança que nasce
Em teu hálito de promessa
E aterrava…
Aterrava na pista prometida…






foto from olhares.com

25/05/08

O Azul...




O azul…
Intenso...leve
Brota dos teus lábios…saciados
Encanto… moreno
Sempre luz de um sol poente
Raiando em pele vivida
O azul…
De teus olhos castanhos
Em lençóis dourados de paixão
Suave…
Breve num despertar,
Infinito num entardecer
Crê-se romântico
Em palavras inaudíveis
Crê-se rei
No meu reino que abandonei
O azul…
Que imaginei para ti
Que teci num êxtase
Singular de lua sobre sol
Em perfumes molhados
Suados… sentidos…
Vejo-te deambulando
No corredor do meu rumo
Incerto…
E só tua sombra é real
Companheira…
O azul…
Que brota da minha pele
Um dia cobriu teu corpo
E espera…
Fantasiando uma nova madrugada…


foto from olhares.com

22/05/08

Ilusão


Mente-me… mente-me na tua verdade
E eu esperar-te-ei!
Afinal as rosas que me ofereceste não tinham cor,
Nem o vinho que bebemos tinha sabor
E o café que tomámos perdera o aroma.
Tudo se perdera na possibilidade do impossível.
E, se no impossível os riscos traçados
Numa noite de calor e desejo,
Num mapa invisível de sorrisos,
Violassem todas a s leis da física
Teríamos um jardim florido.
E então…
Então o presente é uma promessa
Abandonada no areal da vida
E o sorriso já não tem cor.
E tão pouco me contentaria,
Se contigo cavalgasse em direcção
A lágrimas de sol numa gota de orvalho…

14/05/08

Tu existes...


O momento existe porque tu existes ...
E nesse momento vestiste-me de indecisão
E senti-me habitado pelo teu olhar, pelo teu sorriso.
O teu sorriso, ofuscante, que me faz esquecer a luz do sol
E o teu olhar que é o universo que eu quero habitar.
Eu quero, eu desejo
Entrar novamente nesse paraíso
E abraçar o teu eu profundo
Navegar nesse brilho angelical
Sentir a batida desesperada desta sinestesia que me consome
Ao ver o meu reflexo em ti.
Eu quero, eu desejo
Ser novamente invadido pela tua alma
Adormecer no teu sorriso
E acordar com o doce raiar do teu olhar…

13/05/08

Criação


Hoje decidi criar-te!
Pintei-me de Deus e abracei uma tela.
Coroei minha mão de fantasia e minha alma de imagens
E sobre um branco angelical
Derramei dias de solidão, noites de espera,
Suor de lágrimas e ansiedade.
Misturei as tuas palavras com a incerteza,
O amor com a amizade
E as tuas promessas com o infinito.
Coloquei-te no olhar o sonho dos meus dias felizes
e no sorriso a luz das minhas noites tristes.
Projectei o meu rosto no teu, sem artimanhas
E a obra nasceu.
E tu nasceste e eu renasci em ondulações de equívoco
Em espuma de mar e de amor…

06/05/08

Meu espaço



Neste espaço que ocupo
Não há lugar para muita gente
Um…dois..três e uma cadeira vazia. Silenciosa…
Olhando-me de soslaio…
Neste espaço que ocupo
Habita um universo de palavras
Proferidas em segredo e um verbo por conjugar,
Prisioneiro de uma saliva não partilhada.
Neste espaço que ocupo
Esvoaça uma folha em branco. Leve…
Esperando a semente de uma mão cálida.
Neste espaço que ocupo
Evaporam-se lágrimas de sentimento.
Neste espaço que ocupo
O real e a fantasia, a nostalgia e o presente
E essa cadeira vazia
Dançam tão serenamente o bailado do meu espaço
Que até chega a ser obsceno.

04/05/08

Tempo

Há dias felizes
Outros nem por isso…
Hoje sentei-me no tempo e analisei a brevidade de um dia.
Mastiguei os segundos, os minutos e não me saciei!
Abri as portas das horas e deixei os ponteiros me embalarem,
Num arrepio colossal de sonho
E escorreguei em catadupa de dias, de meses, de anos…
Fechei as janelas da vida, construí meu forte
E nele aprisionei o tempo e vi o tempo morrer.
E sem tempo, perdi meu rumo
E adormeci em inércia.

27/04/08

O Sorriso

Creio que foi o sorriso,

sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz

lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar

nu dentro daquele sorriso.

Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Eugénio de Andrade

Muito em mim


Muito em mim é querer-te e desejar-te
poeta morto e heterónimo do meu ser,
paz sossegada, luz de muito luar,
muito em mim é ser poeta e homem.

Alba fronte de desejo
de calor em meu sossego
alba negra, perdida e morta
de um poeta calado e morto.

Gente e tanta...
tanta, pequena e errante
desvairada e amortecida
espezinham o belo e o bom.

Muito em mim me condena
e comer a fome e matar a vida
é fechar-me em labirinto
e sorrir ao teu olhar,

É acabar com teu encanto
e gritar sem voz
é amordaçar-te a alma
e perder-te em pecado.

E tu, meu poeta heterónimo
és singular na perfeição
mas perdes minha voz nessa gente e tanta...
e não sabes gritar o belo e o bom....

25/04/08

Sem muito para dizer

Sem muito para dizer, afirmo minha vontade de gritar
Como quem sufoca com um beijo apaixonado.
E entre um sorriso perdido, um olhar esquivo
Perco-me em tempo real, dentro de um mar revolto,
Dentro um vento agressivo que sopra palavras
Que só eu posso entender.
Ilusões, perdições, sentimentos,
Corações empobrecidos que não conhecem
A simbiose do conjugar e do sentir.
Sem muito para dizer, afirmo minha vontade de soletrar,
Devagarinho, saboreando cada letra, numa associação de hiperligações.
E do vento agressivo, do mar revolto, do sufoco
Surgem frases inteligíveis fruto de um tempo efémero
Que na minha vontade de gritar são ecos que se propagam para além do horizonte.